quinta-feira, 2 de junho de 2011

APOSTILA USADA NO CAPOEIRA TRADIÇÃO


01 – ORIGEM

Entre as muitas hipóteses que surgiram e que ainda surgem a que mais se assemelha ao correto é a de que esta palavra CAPOEIRA seja de origem Tupy-Guarany. Os índios chamavam de KAPU'ÊRA este local, que era sempre no meio das matas ao redor das fazendas de engenho, onde o mato era ralo, rente ao chão ou às vezes até mesmo cortado (roçado) pelos negros para a prática dos movimentos e golpes da luta. Até hoje os povos do interior dos estados brasileiros, principalmente de Minas Gerais chamam estes locais de Capoeira, muitas vezes sem saber que este é o nome que dá significado à Capoeira. Uma luta/dança veio para o Brasil com os negros africanos na época do Brasil Colônia, por volta do ano de 1538, na fase áurea do desbravamento e desenvolvimento do nosso país. Na África, esta luta/dança não se chamava Capoeira e sim N'Golo e lá era apenas uma diversão. Havia, inclusive, campeonatos onde os melhores lutadores eram chamados de guerreiros, tinham privilégios junto aos líderes das tribos e sempre eram os preferidos pelas mulheres na hora de casarem, pois eram considerados os mais fortes e sadios. O N'Golo era praticado principalmente pelos “Humbes", uma tribo da região sul de Angola e a palavra N'Golo é traduzida por "Dança da Zebra". Os movimentos imitavam alguns movimentos das zebras em luta ou em carreira ou ainda, das zebras machos para conquistar uma fêmea no cio. Ao serem trazidos como escravos para o Brasil, os negros angolanos passaram a usar esta luta não mais para se divertirem, mas para se defenderem das atrocidades do homem branco. Não é possível dizer com exatidão em que data ou local se travou a primeira batalha corporal entre negros e brancos, na qual foram utilizados golpes de Capoeira. Porém, já foram encontrados registros de sua existência a partir do século XVII, no litoral da Bahia, onde era maior a concentração de negros no Brasil. Também se diz dos litorais de Pernambuco, Rio de Janeiro, Alagoas e Paraíba. Conta a história que os negros do Quilombo dos Palmares, o maior e mais famoso reduto de negros fugitivos que existiu, levaram uma enorme vantagem nas lutas corporais contra os seus perseguidores, tendo em vista a rapidez, a violência e a potência com que os negros deferiam golpes de pés e pernas, conseguindo cada guerreiro levar vantagem sobre três ou quatro homens do rei, como eram chamados os soldados naquela época. Foi devido a esta habilidade de lutar de seus integrantes que o Quilombo dos Palmares resistiu por mais de cem anos às invasões e à destruição. Até chegar ao que é hoje a arte da Capoeira, passou por muitas "provações", pois após ter sido marginalizada e até mesmo proibida, ainda sobreviveu por conta de Mestre Pastinha e Mestre Bimba que, apesar de toda a fama que tiveram, morreram abandonados, na miséria e sem verem sua arte valorizada e difundida aos quatro cantos do mundo.

02 – ARTE DE GUERRA

"Ter malícia não é ser maldoso". São freqüentes as histórias e notícias sobre a violência nas rodas de Capoeira de todo o Brasil. São mestres invalidados por conta de uma cabeçada, ponteira, aú, rabo de arraia ou tesoura de tronco. Alunos mortos por um martelo rodado ou por uma meia-lua de compasso que os atingiu na cabeça ou nos pulmões, enfim... Talvez por influências erradas nos grupos de Capoeira, somente para semear a violência e a morte seqüente, a Capoeira hoje é mal vista por muita gente. Muitas pessoas que gostam e admiram a arte da Capoeira, deixam de ingressar nas academias e escolas para aprender a jogar por causa da violência que impera. A má fama cresce tão desordenadamente que muitos capoeirista abandonam o aprendizado com medo de serem invalidados ou, pior ainda, de serem mortos. Muitos mestres ensinam aos seus discípulos que a Capoeira é um esporte de exibição, que é para ser praticado somente na roda ou dentro das academias, que um capoeirista que for apanhado brigando nas ruas ou promovendo arruaças será expulso do grupo ao qual é pertencente. Mas, de que adianta isso tudo se o próprio aluno já chega na academia disposto a dar uma de machão, valente, dono do pedaço? Não adianta nada. O mestre é o senhor do aluno durante a prática da Capoeira. Se o mestre não impuser o devido respeito ao aluno, qual aluno respeitará seu mestre? Quantos destes alunos (alunos mau feitos) já não encheram os boletins de ocorrência das delegacias policiais do Brasil inteiro? Será culpa dos mestres? Muitas vezes, sim. O aluno assimila o que o mestre ensina. Graças a Deus, estes "mestres" são uma minoria entre nós. Quando acontece de um capoeirista se machucar durante o jogo por falta de atenção aos movimentos de seu parceiro, a culpa é de sua própria desatenção, nada mais. Porém, quando um capoeirista "pega" o outro prá valer, ou seja prá machucar, a coisa é diferente, é maldade mesmo e isso não é Capoeira. A Capoeira não é uma luta de medição de força, é um jogo de habilidade e
 gilidade. Já foi uma luta feroz, mas isso nos tempos dos escravos. Hoje, a Capoeira é um esporte e o esporte é uma forma de educação e não de favorecimento à violência.

03 – INSTRUMENTO DA PAZ

A Capoeira é instrumento da paz desde o Quilombo dos Palmares. Pode parecer contraditório mas, foi através da luta que os Palmarinos buscavam a paz. Foi com golpes mortais de Capoeira que eles lutaram até a morte sonhando com uma vida em paz e com a harmonia entre os povos. Uma Capoeira bem ensinada forma um atleta, um ser humano tranqüilo, bem educado, respeitador e de bom convívio social e familiar. Hoje a Capoeira é a profissão de muitos, que através dela sustentam a família e ainda tiram lucro. Muitos meninos de rua das grandes cidades que têm oportunidade de ingressar na prática da Capoeira mudam seus hábitos e a sua maneira de viver. Com empenho e dedicação, em pouco tempo, eles já estão fora do caminho das drogas, da prostituição e do roubo. Diga aí, se isso não é um caminho da paz na vida de um ser humano! Quando se forma uma roda de Capoeira no meio de uma praça para uma exibição, forma-se em torno desta roda uma multidão de admiradores e de curiosos que vão ali somente para ver e se divertir com o acontecimento e muitas vezes, quem está da roda jogando nem se dá conta da união que se forma em torno dele, da força espiritual que cada um passa para o próximo mesmo sem perceber, isto é uma manifestação de paz. Em muitas academias, a união fraterna entre os alunos é o primeiro ensinamento que o mestre dá. Afinal de contas, eles não estão ali para se matarem. Estão, na verdade, se tornando amigos, irmãos.
Existe uma música que diz: "Capoeira é beleza / Capoeira é tradição Capoeira tem fundamento / Capoeira é jogo de irmãos"
E outra que diz: "Camarada que é meu camarada / é meu irmão é irmão do coração / camarada é meu irmão..."
É comum ver nas músicas a palavra "camarada" e se o jogador é chamado de camarada, é porque com certeza não é seu inimigo.

04 – LUTA MORTAL

Os golpes da Capoeira podem ser mortais se não forem bem aplicados, com destreza, sabedoria e habilidade. Golpes como meia-lua de compasso, a cabeçada, a ponteira, o aú, o rabo-de-arraia, o martelo, a chapa de frente, o pisão, a tesoura de tronco, o salto mortal e o martelo rodado são fatais se acertarem o parceiro de jogo. Os capoeiristas, no princípio do século XIX passaram a ser muito temidos, pois, além da força empregada nos golpes da luta, eles usavam navalhas presas entre os dedos dos pés, com o fio voltado para o alvo do golpe, ou seja, o corpo do adversário. Antes, os capoeiristas se aliavam a políticos e formavam bandos para promover desordens em comícios de adversários de outros partidos ou para fazer arruaças em pontos isolados da cidade para que a polícia se dirigisse lá enquanto outros desordeiros se organizavam ou se reuniam em locais públicos.

05 – DANÇA E BRINCADEIRA

Hoje encontramos escolas - "Academias de Capoeira" - onde os mestres formam seus discípulos. A luta transformada num divertimento passou a ser o próprio divertimento em si, a vadiação como se diz. Vadiar numa roda de Capoeira é o sonho de todo capoeirista. Ao som de berimbaus, pandeiros, caxixis e atabaques, os "capoeiristas" batem palmas e cantam. Formam um semicírculo e, dois a dois, entram na roda para vadiar, ou para jogar a Capoeira. Maneios de corpo, ginga, rasteira, rabo de arraia, bênção de peito, armada, queixada... golpes e contra-golpes ritmados e rápidos, embalados pela música e pelas palmas. É uma dança. Mas, cuidado! A brincadeira pode acabar e a luta de verdade começar. Com a Capoeira não se brinca nem na hora da brincadeira.

06 – PRÁTICA DA CAPOEIRA

A Capoeira dispensa qualquer tipo de ginástica ou condicionamento físico para seus praticantes por ser ela um esporte completo, que trabalha o corpo desde a parte muscular até a parte mental e espiritual do ser humano. Suas bases são movimentos altamente flexibilizantes, tonificantes e alongadiços. Ainda há muito que ser pesquisado sobre as movimentações da Capoeira, mas, do já se sabe, os mestres definem que o equilíbrio mental e corporal é o que sustenta a prática dos movimentos de um bom jogador de Capoeira. A Capoeira é a arte de lutar sorrindo, onde os jogadores são um como o espelho do outro. Praticar a Capoeira é um prazer que cada vez mais pessoas estão descobrindo e levando a sério.

07 – A APRESENTAÇÃO DOS CAPOEIRISTAS

Um bom capoeirista deve se apresentar para a prática do esporte vestido com seu "abadá", ou seja, calça de helanca branca e camisa regata de malha branca, contendo estampado na frente e nas costas o símbolo ou escudo do grupo ou associação ao qual representa. Um abadá completo consta de: calça de helanca branca, camiseta regata ou olímpica branca, corda, cordão ou cordel, que representam a graduação do atleta, proteção para os pés, tornozelos, punhos e joelhos, que são opcionais e os capoeiristas devem estar descalços. Há uma diferença entre a apresentação de um capoeirista regional e um angoleiro. Ainda hoje, os capoeiristas que praticam e cultuam o jogo de Angola, fiéis ao ritual antigo, se vestem de terno de puro linho branco, camisa de seda pura, lenço no pescoço, chapéu de Panamá, sapato lustrado e meia.

08 – A CONCENTRAÇÃO MENTAL

O capoeirista medita em movimento. Ele conta com o apoio de todos os santos que conhecem e confiam. Antes de sair para o jogo, o capoeirista agacha ao pé do berimbau e reza pela proteção se benze e pede aos velhos mestres que o protejam. E o capoeirista pula e rodopia, faz misura, enfeita o jogo, faz que vai e não vai e quando menos se espera... ele já foi. Embalados pelo som dos berimbaus, pandeiros e atabaque, os capoeiristas se entregam ao jogo como se um "espírito brincalhão" tomasse conta de seus corpos. O som da Capoeira embala, encanta, enfeitiça os jogadores e a platéia, que se prendem ao jogo com a máxima atenção e concentração. A Capoeira é uma espécie de dança mágica que toma conta da gente sem a gente perceber ou querer. O escritor brasileiro Dias Gomes, em uma de suas muitas crônicas, disse o seguinte: "Capoeira é dança de gladiadores e luta de bailarinos, é disputa, simbiose perfeita de força, ritmo, poesia e agilidade. Acima de tudo e do espírito da luta, há no capoeirista um sentimento puro de beleza. O Capoeira é um artista, um atleta, um jogador e um poeta."

09 – O QUE É SER CAPOEIRISTA?

Ser capoeirista é muito mais do que aprender a lutar bem. É preciso entender as características da luta e sua origem histórica. Nada foi escrito ou estipulado. Porém, a Capoeira tem as suas regras muito bem definidas e que foram sendo transmitidas oralmente de capoeirista para capoeirista. Nada pode ser inventado na Capoeira posto que ela provém da prática e não da teoria, apesar de ter alguns princípios teóricos, somente podendo ocorrer o aperfeiçoamento e o desenvolvimento técnico. Devido à sua origem histórica, o capoeirista tem de ser liso, esperto e oportunista, tendo em vista que na Capoeira não há confronto direto nem medição de forças. O que manda é a habilidade, a agilidade, a flexibilidade e a malícia do jogador para atacar e se defender de seu adversário com a mesma rapidez usando todos os recursos que tiver. Fora da roda de Capoeira, a defesa da liberdade em todos os sentidos, a honestidade consigo mesmo e com os outros, o respeito tanto ao fraco tanto quanto ao forte devem orientar a sua vida.

10 – GRADUAÇÃO

Originalmente, não havia graduação na Capoeira. O próprio Mestre Bimba, somente quando considerava um aluno sabedor do que lhe fora ensinado, é que o considerava formado e, seguindo uma tradição, dava-lhe um lenço de seda azul que deveria ser usado amarrado ao pescoço sempre e somente quando o capoeirista ia para a roda jogar. Atualmente, a graduação é usada para distinguir as várias fases do aprendizado do aluno, sendo que cada grupo ou associação adota o critério e as cores que mais lhe convierem seguindo suas preferências em fitas, cordéis, cordas, faixas ou lenços de seda em conformidade com o sistema de cores da Bandeira Nacional, das religiões Afro do Candomblé, dos elementos da natureza (fauna, flora, etc.).

11 – IMPORTÂNCIA DA VISÃO E INTUIÇÃO

O capoeirista deve possuir ótima visão, bom golpe de vista e uma visão periférica bastante abrangente. O golpe de vista dá ao capoeirista em apenas um segundo a visão perfeita e segura do ambiente que o cerca, das pessoas que o cercam, dos ataques que se pode aplicar nas horas certas e cinco das defesas que pode fazer. A visão periférica permite que o capoeirista perceba o ambiente sem descuidar ou desviar a atenção durante o jogo já que o mínimo descuido pode lhe ser fatal. Pela visão global, o capoeirista sabe de todas as pretensões de seu adversário sem fixar o olhar diretamente no parceiro, não deixando que este conheça seu jogo e se apodere do ambiente. Pela intuição, o capoeirista deve pressentir de longe o golpe de seu parceiro e livrar-se dele oportuna e instintivamente. A percepção clara, reta e imediata do ataque e da defesa, estando no seu subconsciente, é um reflexo condicionado que proporciona rapidez aos golpes e flexibilidade às defesas dando mais agilidade ao jogo.

12 – DESENVOLVIMENTO FÍSICO

Ter um corpo bem estruturado é o princípio de toda pessoa que se empenha na prática do esporte. Na Capoeira, a formação física é evidente, sendo que todo movimento que o capoeirista desenvolve também desenvolve seus músculos e principalmente suas articulações, dando-lhe muito mais vigor físico e mais maleabilidade. Outro ponto importante que é muito evidenciado na Capoeira é a respiração, ou seja, o fôlego do capoeirista. Isto se deve ao grande esforço físico desempenhado durante o jogo. Para ter um fôlego bom, e portanto um bom preparo físico para executar com eficiência os movimentos da Capoeira, o capoeirista deve ser uma pessoa sem vícios, principalmente da bebida, das drogas e do cigarro. Além disso, o capoeirista deve ser assíduo na freqüência das aulas e praticar com êxito todos os exercícios ensinados por seu professor.

13 – FLEXIBILIDADE, AGILIDADE E EQUILÍBRIO

Possuir flexibilidade de articulação, ao que Mestre Bimba chamava de "ter junta", é um elemento de grande importância, não só para se desviar dos golpes, como também para aplicá-los com eficiência. Ter molejo no corpo, jogo de cintura, ginga macia são termos que muitos mestres empregam paran incentivar aos seus alunos a praticar os exercícios de flexibilidade do corpo. Um capoeirista que tem um bom jogo de cintura se sai muito melhor no jogo e seus movimentos são melhores executados, ou seja, se destaca na roda. Faz um jogo bonito tanto na Capoeira Angola quanto na Regional. A agilidade exerce um relevante papel na Capoeira. O capoeirista ágil desvia-se em tempo oportuno dos golpes do adversário e não se deixa prender em nenhum deles. Caso fique preso em um golpe, é ainda a agilidade que o capacita a se livrar aplicando a seu adversário golpes imprevistos e rápidos que não dêem tempo para o adversário evitá-los. O equilíbrio é outra qualidade indispensável para o capoeirista negacear, deferir os golpes ou se desviar deles. O praticante da Capoeira deve explorar de forma irrestrita estas qualidades, ou seja, a agilidade e o equilíbrio, empenhando-se sempre nos exercícios que buscam desenvolver estas habilidades. Mas, e quando entra no treinamento uma roda de cadeiras? O uso de obstáculos para desenvolver o golpe de vista e segurança dos movimentos da Capoeira já é prática antiga, defendida e também usada por Mestre Pastinha e outros mestres mais. Pastinha disse: - "Eu não inventei o uso das cadeiras, eu vi e achei bom. O círculo das cadeiras é bom para aprender o jogo de dentro". Pastinha ainda acentua a importância da proximidade dos parceiros no jogo da Capoeira. Os antigos mestres usavam obstáculos como a roda de cadeiras, de mesas ou das duas juntas para desenvolver a agilidade e o golpe de vista de seus alunos, o que é indispensável na prática da Capoeira, principalmente no jogo de dentro, que simula a luta com arma branca. A referência de Pastinha ao uso pelo seu mestre de cadeiras para delimitar o ambiente de treino é importante porque revela a preocupação desde os tempos antigos com a noção espacial da localização do capoeirista dentro do ambiente em que se desenvolve o jogo. Trata-se do meio de treinar o sexto sentido, de modo a evitar os acidentes de choque dos jogadores com o povo que está assistindo. Desenvolve-se ainda um sentido de presença de obstáculos à volta do jogador, e isso é extremamente importante na avaliação da oportunidade de lançar um ataque ou durante uma esquiva.
Psicologicamente, é muito importante a sensação de segurança e autoconfiança. O treino individual em área delimitada por quatro cadeiras simulando quatro adversários obriga o praticante a desenvolver um senso especial de obstáculos e uma avaliação de distância que lhe são de grande utilização no jogo, na luta e na vida prática. Na década dos anos quarenta, depois de aulas e treinos curriculares, o grupo de alunos do Mestre Bimba permanecia na academia para um treino de briga em ambiente fechado, sempre com o uso de uma arma branca (navalha, facão, faca ou cacete de madeira). Treinar com a luz apagada, com cadeiras, bancos e mesas espalhados pela sala, onde estejam no máximo cinco jogadores, é excelente para a apuração dos reflexos, o que leva ao não acontecimento de acidentes graves ou lesões durante um jogo, pela predominância da esquiva sobre o ataque.

14 – DESENVOLVIMENTO MENTAL
Pontos básicos:

I - CAPACIDADE DE OPINIÃO:

É importantíssimo que um capoeirista tenha opinião própria formada. Isto significa que, ao entrar numa roda, mesmo que seu mestre esteja junto dele, o aluno tem que ter opinião para tomar ele próprio a iniciativa do jogo e não ficar esperando que seu mestre "o empurre" para o jogo ou que outro capoeirista o chame.

II - RAPIDEZ DE PENSAMENTO:

Um bom Capoeira deve ser rápido ao pensar. Porém, deve pensar direito. Mas, como conseguir isso?
Pensar rápido e a contento de suas atitudes é quase impossível. Porém, se a imaginação for desde cedo bem trabalhada, o capoeirista consegue pensar mais rápido do que seu adversário e com isso consegue ser mais rápido na aplicação do golpe. Rapidez de pensamento quer dizer, acima de tudo, atenção.

III - CONTROLE EMOCIONAL:

É importante que o capoeirista controle ao máximo as suas emoções, seja frio e calculista, desde que estes estados de espírito sejam usados somente para o jogo. É fácil fazer isto. Basta que o mestre faça desde o início um trabalho de exercícios mentais com seus alunos, ensinando-os a serem comedidos e frios sem serem mesquinhos e ruins e, principalmente, sem serem violentos.

IV - CONTROLE RACIONAL:

O capoeirista deve raciocinar dentro da roda durante o jogo. Deve ter controle absoluto sobre seus movimentos e deve tentar ao máximo controlar os movimentos de seu adversário, fazendo com que ele jogue o seu estilo de jogo e que aplique os golpes de acordo com os que são aplicados por você.

15 – MESTRE PASTINHA (CAPOEIRA ANGOLA)

Nasceu em 1889, filho do espanhol José Señor Pastinha e de Dona Maria Eugênia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no Centro Histórico de Salvador e sua mãe, com a qual ele teve pouco contato, era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação e que vivia de vender acarajé e de lavar roupa para famílias mais abastadas da capital baiana. Menino ainda, Pastinha conheceu a arte da capoeira com apenas 8 anos de idade, quando um africano que chamava carinhosamente de Tio Benedito, ao ver o menino pequeno e magrelo apanhar de um garoto mais velho resolveu ensinar-lhe a arte da capoeira. Durante três anos, Pastinha passou tardes inteiras num velho sobrado da rua do Tijolo em Salvador, treinando golpes como meia-lua, rasteira, rabo de arraia e outros. Ali ele aprendeu a jogar com a vida e a ser um vencedor. Viveu uma infância feliz, porém, modesta. Durante as manhãs freqüentava aulas no Liceu de Artes e Ofício, onde também aprendeu pintura. À tarde, empinava pipa e jogava capoeira. Aos treze anos era o moleque mais respeitado e temido do bairro. Mais tarde, foi matriculado na Escola de Aprendizes Marinheiros por seu pai, que não concordava muito com a vadiagem do moleque. Conheceu os segredos do mar e ensinou aos colegas as manhas da capoeira. Aos 21 anos voltou para o centro histórico, deixando a Marinha para se dedicar à pintura e exercer o ofício de pintor profissional. Suas horas de folga eram dedicadas à prática ca capoeira, cujos treinos eram feitos às escondidas, pois no início do século esta luta era crime previsto no código penal da república. Em fevereiro de 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, no casarão número 19 do Largo do Pelourinho. Esta foi sua primeira academia escola de capoeira. Disciplina e organização eram regras básicas na escola de Pastinha e seus alunos sempre usavam calças pretas e camisas amarelas, cores do Ypiranga Futebol Clube, time do coração de Pastinha. Mestre Pastinha viajou boa parte do mundo levando a capoeira para representar o Brasil em vários festivais de arte negra. Ele usava todos os seus talentos para valorizar a arte da capoeira.
Fazia versos e chegou a escrever um livro, Capoeira Angola, publicado em 1964, pela Gráfica Loreto.
Pastinha trabalhou muito em prol da capoeira, divulgou a arte o quanto lhe foi possível e foi reconhecido por muitos famosos que se maravilhavam com suas exibições. Aos 84 anos e muito debilitado fisicamente, deixou a antiga sede da academia para morar num quartinho velho do Pelourinho, com sua segunda esposa, Dona Maria Romélia e a única renda financeira que tinha era a das vendas dos acarajés que sua esposa vendia . No dia 12 de abril de 1981, Pastinha participou do último jogo de sua vida. Desta vez, com a própria morte. Ele, que tantas vezes jogou com a vida, acabou derrotado pela doença e pela miséria. Mestre Pastinha morreu aos 92 anos, numa sexta-feira, 13 de novembro de 1981, no abrigo D. Pedro II em Salvador. Estava cego e paralítico.

16 – MESTRE BIMBA (CAPOEIRA REGIONAL)

Manoel dos Reis Machado era filho de Luiz Cândido Machado e de Dona Maria Martinha do Bonfim, nasceu dia 23 de novembro de 1899, no bairro do Engenho Velho em Salvador/BA, lado da Freguesia. Seu apelido - BIMBA - resultou de uma aposta da parteira com a sua mãe, pois Dona Martinha acreditava que daria à luz uma menina e a parteira dizia que seria menino. A parteira ganhou a aposta e o pequeno Manoel recebeu o apelido de Bimba, por ser este o nome popular dado ao órgão sexual do homem na Bahia, referindo-se às crianças. Começou na arte da capoeira com menos de 12 anos, tendo por mestre e professor um negro africano chamado Bentinho, que era capitão da Companhia Baiana de Navegação. Seu aprendizado com Bentinho durou cerca de quatro anos e após este período passou a ensinar o que aprendeu e lecionava Capoeira Angola na Capitania dos Portos da Bahia. Bimba fez por mais de dez anos. Mestre Bimba fundiu a Capoeira Angola com o Batuque, um tipo de luta que aprendeu com seu pai, que era campeão absoluto na Bahia, dando-lhe uma roupagem nova, um novo estilo, tornando-a mais rápida e ágil. Este novo estilo foi chamado Luta Regional Baiana, por ser praticado, na época, somente na região de Salvador e mais tarde, já em franca expansão foi chamado de Capoeira Regional. Em 1932, fundou sua primeira academia-escola de Capoeira Regional no Engenho de Brotas em Salvador. Era o Centro Cultural Físico Regional Baiano. A partir daí, Mestre Bimba começou a ser conhecido e a ficar famoso e ganhou dentre muitos o título "Pai da Capoeira Moderna". Só em 1937 obteve o registro de sua academia junto à Secretaria de Educação, Saúde e Assistência Pública de Salvador e em 1942 fundou sua segunda academia no Terreiro de Jesus - Rua das Laranjeiras, hoje rua Francisco Muniz Barreto, 1, onde continua funcionando, sob a direção de seu ex-aluno Vermelho-27. Traído por falsas promessas do governo, falta de apoio e dificuldades financeiras, Mestre Bimba morreu em 15 de fevereiro de 1974, no Hospital das Clínicas de Goiânia, vítima de Derrame Cerebral. Há relatos de sua família que Mestre Bimba teria morrido não no dia 15 e sim no dia 05. Mestre Bimba foi carvoeiro, doqueiro, trapicheiro, carpinteiro, mas principalmente, capoeirista, MESTRE DE CAPOEIRA e a chama de sua existência estará sempre acesa no coração e na mente de todos os capoeiristas regionais, recebendo assim o reconhecimento de várias gerações e a consagração de sua genialidade e da sua mais conhecida criação, a CAPOEIRA.

ALGUMAS CRIAÇÕES DE MESTRE BIMBA:

1) Capoeira Regional: consistia de 52 golpes.
2) Método de Ensino: Seqüência de Bimba que consiste em 8 seqüências de ataque e defesa para serem executados na roda.
3) Seqüência de Cintura Desprezada, que é uma série de balões cinturados, que os alunos só podiam jogar depois de formados, ao toque de iuna.
4) Batizado de Capoeira, um ritual onde o aluno é iniciado na capoeira recebendo um apelido e sua primeira graduação.
5) Graduação na Capoeira, que consistia em 4 lenços de esguião de seda:
a) 1º lenço cor azul – Aluno Formado
b) 2º lenço cor vermelho – Aluno Formado e Especializado
c) 3º lenço cor amarelo – Curso de Armas
d) 4º lenço cor branco – Mestre de Capoeira
17 SEQUÊNCIA DE MESTRE BIMBA
As seqüências devem ser feitas, a partir da ginga básica, em ritmo rápido (São Bento Grande, capoeira regional), apesar de poder ser também em ritmo lento, até que o iniciante as memorize, para executá-las sem titubear, naturalmente.

1ª Seqüência Jogador 1 meia-lua de frente meia-lua de frente bênção aú
                      Jogador 2 cocorinha cocorinha bênção aú role

2ª Seqüência Jogador 1 martelo cocorinha bênção aú rolê
                      Jogador 2 rasteira armada negativa cabeçada

3ª Seqüência Jogador 1 queixada cocorinha bênção aú rolê
                      Jogador 2 cocorinha armada negativa cabeçada

4ª Seqüência Jogador 1 godeme godeme arrastão aú rolê
                      Jogador 2 godeme galopante negativa cabeçada

5ª Seqüência Jogador 1 Arpão de cabeça joelhada Aú role
                      Jogador 2 cabeçada negativa Cabeçada

6ª Seqüência Jogador 1 meia lua do compasso cocorinha joelhada lateral aú role
                      Jogador 2 cocorinha meia lua do compasso negativa cabeçada

7ª Seqüência Jogador 1 armada cocorinha bênção aú rolê
                      Jogador 2 cocorinha armada negativa cabeçada

8ª Seqüência Jogador 1 benção aú rolê
                      Jogador 2 negativa cabeçada

18 – EVENTOS DE CAPOEIRA
São festas preparadas para reunir os alunos e mestres de vários grupos, associações e entidades ligadas à arte. Entre os muitos eventos ligados à arte da Capoeira, alguns mais importantes:

BATIZADO
O batizado de Capoeira é uma festa realizada especialmente para os alunos. Para tanto, são convidados pelo grupo organizador vários mestres, instrutores e professores com seus respectivos alunos representando seus grupos ou associações. A associação ou grupo que promove um batizado faz a festa para os seus alunos que receberão graduação e que posteriormente serão batizados. Para esta festa realmente acontecer com tudo que tem direito, são programadas apresentações de Maculelê, Samba de Roda, Roda de Mestres (jogo de Iúna), roda só para mulheres, roda de crianças, a entrega das graduações propriamente dita e um rodão livre para todos jogarem. Depois disso tudo, realiza-se um almoço, lanche ou algo parecido, muito bem aceito por todos. O batizado de Capoeira é um evento dispendioso e que requer uma boa organização e uma boa programação de atrações. Além disso, os organizadores têm que preparar o local onde se realizará o evento, hospedagem para os mestres e contra-mestres convidados, alojamento para os demais integrantes das associações e grupos convidados, refeição para todos após as atividades, confecção dos convites, despesas de envio pelo correio, propagandas, etc., e, para tanto, é preciso batalhar por patrocínio de empresas que se interessam pela divulgação da arte e do esporte Capoeira. Realização à parte, falemos do aluno. Para que o aluno seja batizado, não basta apenas que ele receba a graduação das mãos de seu mestre ou de seu padrinho ou madrinha. Ele será realmente batizado quando um mestre ou contramestre convidado jogar com ele e derrubá-lo ao chão.

ENCONTRO
Realizar um encontro de Capoeira é uma tarefa que exige habilidade e muita queda de cintura. O encontro de Capoeira é um evento onde se reúnem mestres, contra mestres, professores de arte, interessados pelo assunto, personalidades do mundo da Capoeira, alunos e todo tipo de pessoa que se interesse pelo assunto. No encontro se pratica a informação, ou seja, discute-se e estuda-se a arte da Capoeira, o seu desenvolvimento e seu futuro, os rumos a serem tomados, as novas formas de ensinamento, etc. Também num encontro, se realizarão inúmeras rodas de jogo, faz-se avaliações entre os muitos grupos convidados etc. As providências a serem tomadas para a realização do encontro são as mesmas do batizado, que não deixa de ser uma espécie de encontro.

GRADUAÇÃO
Graduar um aluno da Capoeira não é somente colocar uma corda, cordel ou cordão na sua cintura e soltá-lo numa roda à mercê de quem queira derrubá-lo. Até chegar a merecer uma graduação, o aluno passa por um rigoroso aprendizado e por um longo tempo de treinamento. Nunca haverá um capoeirista que dirá: - Eu peguei minha primeira graduação com menos de um ano de academia e treinamento! Se isso acontecer, quem escutar pode estar certo de que está acontecendo três coisas: ou o aluno é muito conversado e gosta de se exibir; ou o mestre que deu a graduação é um mestre de "araque"; ou ainda, por melhor que seja o aluno, nunca o mestre poderá dar a ele uma graduação por menor ou seja com menos de seis meses de prática.

19 - INSTRUMENTOS MUSICAIS DA CAPOEIRA

BERIMBAU
É talvez um dos instrumentos musicais mais primitivos de que se tem informação. Considerado instrumento de corda e encontrado em várias culturas do mundo, inclusive no Novo México (USA), Patagônia, África Central, África do Sul e Brasil. Em geral, o berimbau é constituído de um pedaço de madeira roliço (pau-pereira, aricanga, biriba) ou qualquer outra madeira flexível, tensionado por um fio de arame de aço bem esticado, que lhe dá a forma de um arco, contém um tipo de caixa de ressonância que, na verdade, é uma cabaça ou um coité cortado no fundo e raspado por dentro para ficar oco e com o som bem puro. É tocada a rápidas batidas de uma pequena vareta na corda de arame que vez por outra é presa pelo dobrão (moeda antiga de cobre ou uma pequena pedra de fundo de rio), acompanhada por um caxixi, que nada mais é que uma espécie de chocalho feito de vime e cheio de contas de lágrima (semente) ou conchas do mar bem pequenas. Este caxixi é preso por uma alça ao dedo do tocador e faz um "fundo" de acompanhamento ao som da cabaça. No Brasil, o berimbau chegou pelas mãos dos escravos africanos que vieram para cá traficados para serviços pesados nos engenhos, isto por volta do ano de 1538, século XVI, portanto.
O berimbau também é chamado por outros nomes como urucungo, puíta, quijenge, geguerê, quibundo, umbundo, dentre outros. Estes nomes são derivados de palavras vindas do dialeto Bantu, correspondente aos países de Angola, Moçambique, Congo, Zaire e outros, mas alguns desses nomes aqui no Brasil se destinaram a designar outros instrumentos. Por exemplo: a puíta é a nossa tradicional cuíca, feita de madeira e couro e com formato sextavado; o quijenge é o atabaque feito de madeira de lei e couro, de forma cilíndrica. O berimbau que conhecemos mais popularmente é o que normalmente é feito de madeira ou bambuí e que se compõe de sete partes distintas, ou seja: vêrga, cabaça, corda, caxixi, dobrão, baqueta e amarração da cabaça.
a)BERIMBAU DE BARRIGA
É o berimbau comum que conhecemos. Porém, poucas pessoas sabem que ele também se chama berimbau de barriga por ser encostado ao abdomem da pessoa, ou seja na barriga do tocador.

b) BERIMBAU DE BEIÇO OU DE BOCA
Também conhecido como "marimbau" ou "marimba", é um pequeno instrumento de metal arqueado em forma de diapasão sem cabo, que os escravos usavam preso aos dentes, com os quais faziam soar as pontas do metal. O formato de diapasão sem cabo é semelhante a um grampo de cabelo, porém um pouco maior. A caixa de ressonância é a própria boca do tocador. Atualmente, o berimbau de boca não é mais usado, apesar de alguns mestres antigos, especialmente de Capoeira Angola ainda saberem tocá-lo. É uma peça raríssima, encontrada mais possivelmente em museus.

c) GUNGA, MÉDIO E VIOLA
A afinação dá o nome ao berimbau. É de acordo com a afinação da corda e o tamanho da cabaça que se chama o Gunga que tem o som mais grave e que faz a marcação do toque, tem uma cabaça maior e raramente executa uma virada durante a melodia; o Médio tem um som regulado entre o grave do Gunga e o agudo do Violinha, tem uma afinação mediana que permite ao tocador executar a melodia fazendo o solo da música. É permitido ao tocador de um médio a execução de algumas viradas e alguns toques de repique. Porém, com moderação, para não abafar o Violinha e nem destoar do Gunga, pois o médio é que faz o apoio ao som do Gunga e a base do som do Violinha é ele que determina o toque que será feito para o jogo; o Violinha tem uma cabaça pequena e bem raspada por dentro para ficar bem fina, tem um som agudo e faz apenas o papel de executar as viradas e floreios dentro da melodia. Seu som é baseado ao som médio e do Gunga ao mesmo tempo, é o Violinha que "enfeita" a música da roda. Um bom Capoeira é "obrigado" a saber tocar os três tipos de berimbau e executar suas viradas quando possível. É o tocador do médio que ordena o toque e dá a senha para a saída Don jogo. Numa roda de Capoeira quando o jogo é de Angola, usa-se o trio completo de berimbaus, juntamente com o atabaque e dois pandeiros. É ao pé do berimbau médio, que fica no centro do trio que o Capoeira se benze e espera agachado a senha para começar, ou para sair do jogo.

ATABAQUE
Instrumento de origem árabe, que foi introduzido na África por mercadores que entravam no continente através dos países do norte, como o Egito. É geralmente feito de madeira de lei como o jacarandá, cedro ou mogno cortado em ripas largas e presas umas às outras com arcos de ferro de diferentes diâmetros que, de baixo para cima dão ao instrumento uma forma cônico-cilíndrica, na parte superior, a mais larga, são colocadas "travas" que prendem um pedaço de couro de boi bem curtido e muito bem esticado.
É o atabaque que marca o ritmo das batidas do jogo. Juntamente com o pandeiro é ele que acompanha o solo do berimbau.

PANDEIRO
Instrumento de percussão, de origem indiana, feito de couro de cabra e madeira, de forma arredondada, foi introduzido no Brasil pelos portugueses, que o usavam para acompanhar as procissões religiosas que faziam. É o som cadenciado do pandeiro que acompanha o som do caxixi do berimbau, dando "molejo" ao som da roda. Ao tocador de pandeiro é permitido executar floreios e viradas para enfeitar a música.

RECO-RECO
Instrumento de percussão composto de uma espécie de cano de metal, coberto por duas ou três molas de aço, levemente esticadas e, que para produzirem o som são friccionadas por um "palito" comprido de metal, um ferrinho. É usado em rodas de Capoeira Angola na Bahia, em outros estados seu uso é eventual.

AGOGÔ
Instrumento de origem africana composto de um pequeno arco, uma alça de metal com um cone metálico em cada uma das pontas, estes cones são de tamanhos diferentes, portanto produzindo sons diferentes que também são produzidos com o auxílio de um ferrinho que é batido nos cones.
Também faz parte da "BATERIA" da roda de Capoeira Angola na Bahia.

"EVENTUAL" VIOLÃO
É normalmente usado em gravações de músicas de Capoeira em discos, CD's e fitas. Na roda é muito difícil ver um violão acompanhando a música. Em uma das poucas vezes que tive oportunidade de ouvir um violão tocar em conjunto com berimbaus, atabaques e pandeiros foi numa gravação do Mestre Mestrinho do grupo de Capoeira Iúna, na música "Lamento de um Berimbau", na verdade, não era bem um violão com afinação clássica que proporcionou um efeito sonoro de extremo bom gosto.

PALMAS DE MADEIRA
É comum ver nas rodas de Capoeira, todos os participantes batendo palmas para acompanhar a música e dar mais calor ao jogo. Normalmente, se bate palmas com as mãos, é o lógico! Mas, você já pensou num tipo de palmas de madeira que se usa até hoje em muitas rodas de Capoeira? É isso mesmo. São pequenos pedaços de tábua bem lixada e fina, porém, de madeira pura, que não racha fácil. Nestes pedaços de tábua são colocados tiras de couro para que se possa passá-lo por cima das mãos, deixando a parte de tábua embaixo da palma da mão. O efeito sonoro destas palmas de madeira é algo incrível, dá um barulho quase ensurdecedor na roda e incentiva mais os jogadores e a platéia. Além do que, evita aqueles calos doloridos na palma das mãos.

20 - VARIAÇÕES DO TOQUE DO BERIMBAU
As variações musicais do berimbau são os vários toques executados pelo tocador para definir o tipo de jogo que será feito na roda. Um bom capoeirista deve, ou melhor, tem obrigação, saber o maior número de toques, bem como o significado e o tipo de jogo praticado em cada um desses toques. Estes são os toques mais usados, cada um deles tem um significado. Vejamos:

1)TOQUE DE ANGOLA:
É o toque específico do jogo de Angola. É um toque lento, cadenciado, bem batido no atabaque, tem um sentido triste. É feito para o jogo de dentro, jogo baixo, perigoso, rente ao chão, bem devagar.

2) ANGOLINHA:
É uma variação pouco mais rápida do toque de angola, serve para aumentar o ritmo quando vai mudar o jogo.

3) SÃO BENTO PEQUENO:
É o toque para jogo solto, ligeiro, ágil, jogo de exibição técnica.
Também conhecida como ANGOLA INVERTIDA.
4) SÃO BENTO GRANDE: É o toque mais original da Capoeira Regional. É muito usado em apresentações públicas, rodas de rua, batizados e outros eventos e também nas rodas técnicas das academias para testar o nível de agilidade dos alunos.

5) TOQUE DE IÚNA:
É usado apenas para o jogo dos mestres. Neste toque, aluno é platéia, não joga nem bate palmas, jogam apenas os mestres. No toque de Iúna não há canto.

6) LAMENTO:
É o toque fúnebre da Capoeira. Usado apenas em funerais de mestres.

7) AMAZONAS:
É o toque festivo, usado para saudar mestres visitantes de outros lugares e seus respectivos alunos. É usado em batizados e encontros.

8) CAVALARIA:
É o toque de alerta máximo ao capoeirista. É usado para avisar o perigo no jogo, a violência e a discórdia na roda. Na época da escravidão, era usada para avisar aos negros Capoeiras da chegada do feitor e na República, quando a Capoeira foi proibida, os capoeiristas usavam a "cavalaria" para avisar da chegada da polícia montada, ou seja, da cavalaria.

9) SANTA MARIA:
É o toque usado quando o jogador coloca a navalha no pé ou na mão. Incita o jogo, mas não incentiva a violência.

10) BENGUELA:
É o mais lento toque de Capoeira regional, usado para acalmar os ânimos dos jogadores quando o combate aperta. Em seu início, era tocado com apenas um berimbau. Atualmente, se usa três.

11) MACULELÊ:
É o toque usado para a "Dança do Maculelê", ou para o jogo do porrete, faca ou facão.

12) IDALINA:
É um toque lento, mas de batida forte, que também é usado para o jogo de faca ou facão.

13) SÃO BENTO GRANDE DE BIMBA:
Como o nome já diz, é o toque de Bimba, pois é um tipo de variação diferente que mestre Bimba criou em cima do toque original de São Bento Grande.

14) SAMBA DE RODA:
É o toque original da roda de samba, geralmente feita depois da roda de
Capoeira, para descansar e descontrair o ambiente. É no Samba de Roda que o Capoeira mostra que é bom de samba, bom de cintura e bom de olho em sua companheira.

CAPOEIRA, UMA HISTÓRIA DE VIDA – Apostila elaborada por Maurício Pastor

Outros toques que não foram citados são toques mais usados para florear, enfeitar o jogo, dar andamento à roda, geralmente são usados em eventos e festas de Capoeira para esticar a duração do jogo quando se preparam outras atrações durante o acontecimento da roda. É essencial a um bom Capoeira que ele domine com perfeição todos os toques que conseguir e que pratique o ritmo dos três berimbaus, ou seja, que ele toque o Gunga tão bem quanto o Médio e este tão bem quanto o Violinha.

21 – VARIAÇÕES MUSICAIS DA CAPOEIRA

A prática da Capoeira está intimamente ligada à música, por ser esta uma arte completa que envolve o desenvolvimento físico e as aptidões artísticas de seus praticantes. A Capoeira desenvolve-se ao som de uma "orquestra" muito particular e peculiar por natureza. Esta orquestra é composta de um atabaque, dois pandeiros e de um a três berimbaus e, são estes instrumentos que acompanham as "cantorias da roda". Dentre os vários tipos de "cântigos" de uma roda de Capoeira, destacamos:

CHULA

É uma cantiga curta, normalmente feita de improviso que faz apresentação ou identificação. É entoada pelo cantador para fazer a abertura de sua composição. Normalmente faz uma louvação aos seus mestres às suas origens ou à cidade em que nasceu ou está no momento, pode ainda fazer culto à fatos históricos, lendas ou algum outro no momento, pode ainda fazer culto a fatos históricos, lendas ou algum outro elemento cultural que diga respeito à roda de Capoeira. É comum aos cantadores da roda usar a chula como introdução para as corridos e, durante a mesma é sugerido um refrão para o coro cantar.

CORRIDO

Como o próprio nome já sugere, é uma cantiga que "acelera" o ritmo e que se caracteriza pela junção do verso do cantador com as frases do refrão repetido pelo coro total ou parcialmente, dependendo do tempo que o cantador dá entre os versos que canta. O cantador faz versos curtos e simples que são à toda hora repetidos e o conjunto deles é usado como refrão pelo côro. O texto cantado pode ser retirado de uma quadra, de uma ladainha ou de uma chula ou ainda de cenas da vida cotidiana, de um passado histórico ou simplesmente da imaginação do cantador. Geralmente, o ocorrido é cantado nos toques de São Bento Grande, Cavalaria, Amazonas, São Bento Pequeno, sempre em toques mais acelerados.

QUADRA

É o que o nome diz, uma quadra. A quadra é uma estrofe curta de apenas quatro versos simples, cujo conteúdo pode variar de acordo com a criatividade do compositor que pode fazer brincadeiras com sotaque ou comportamento de algum companheiro de jogo, pode fazer advertências, falar de lendas, fatos históricos ou figuras importantes da Capoeira. Normalmente as quadras terminam com uma chamada ao côro que pode ser: camaradinha, camará, volta do mundo, aruandê, Iêê...Êêê...dentre muitas.

LADAINHA

É um ritmo lento, sofrido, dolente, é como uma reza, uma oração muito parecida com as que são feitas na Igreja Católica em louvor ao terço. O conteúdo de uma ladainha corresponde a uma oração longa e desdobrada pelo cantador em versos entremeados pelo refrão repetido pelo côro. As ladainhas, exclusivas do jogo de Angola, são cantadas antes do início do jogo. Os participantes da roda devem ficar atentos ao cantador, pois na ladainha pode ser feito um desafio e, quando for dada a senha para o início do jogo qualquer um pode ser chamado neste desafio. Normalmente, depois que a roda acaba, é feito um "samba de roda" para acalmar os ânimos mais exaltados durante o jogo. O samba de roda tem letra um pouco mais longa do que o corrido e a quadra, mas se compara bem de perto ao conteúdo de uma chula ou ladainha. Numa roda de Capoeira, apenas uma pessoa canta, o resto do povo responde o côro e bate palmas.

22 – DESENVOLVIMENTO

Dos tempos da escravidão prá cá, muita coisa aconteceu no mundo da Capoeira. Foram crises, proibições, liberações, perseguições, etc. Atualmente, a Capoeira é reconhecida e praticada mundialmente por um número incalculável de pessoas. Porém, existem pontos a serem discutidos e melhor evidenciados. Dentre eles, muitas coisas que as pessoas falam, mas, que até agora, não disseram realmente nada.

23 – CRIME QUE VIROU ESPORTE

Na época da escravidão a prática da Capoeira foi perseguida a ferro e fogo. Porém, depois de passado este período, a Capoeira ainda continuou a ser alvo de poderosos que tentavam dar-lhe um fim, impondo leis à sua prática. O código penal de 1890, criado durante o governo do Marechal Deodoro da Fonseca, fazia proibição à prática da Capoeira em todo o território nacional e, reforçado por decretos que impunham penas severas aos capoeiristas, este código só fez aumentar o ódio às perseguições dos chefes de polícia que tentavam a todo custo fazer valer a lei contra os capoeiristas. O motivo de tanta perseguição era o que a Capoeira trás em toda a sua essência, ou seja, a liberdade. Mesmo passando por todas estas provações, a Capoeira resistiu e se firmou até os dias atuais. De luta proibida antigamente, a Capoeira passou a ser um esporte, ou melhor, o esporte nacional. Genuinamente brasileira, a Capoeira hoje é uma "potência" que dá aos seus praticantes mais fiéis um meio de vida e sustento, sem luxo nem ostentações, mas com dignidade e respeito. Do crime reprimido à duras penas ao esporte praticado pelo mundo afora, esta é a Capoeira, uma herança negra que todo mundo guarda em si como um tesouro invaliável.

24 – FESTA QUE VIROU VIOLÊNCIA E FEZ POLÍTICA

No tempo da República, quando foi proibida, a Capoeira se fez transformar em crime e o crime gera a violência. Nesta época, os capoeiristas eram considerados marginais e, para dar continuidade à prática proibida, eles se escondiam em barracões das companhias portuárias das cidades do Rio de Janeiro, Recife e Salvador. Os Capoeiras, como eram chamados, se organizavam em bandos e esses bandos eram chamados de "maltas". As maltas de Capoeira saíam para enfrentar rivais em festas e datas comemorativas diante das bandas militares e procissões religiosas misturando assim, brincadeira e violência. Os que eram mais perigosos não se expunham tanto assim, mas eram bons nas lutas de faca, porrete e navalha. À propósito, a navalha era uma das armas mais usadas por aqueles que não tinham poder aquisitivo para possuir uma arma de fogo. Elas eram constantemente roubadas das barbearias para uso como arma de luta. Nesta época, o sistema partidário político era movido à corrupção, e para tanto, a Capoeira foi uma ferramenta ideal pois, além de ser considerada prática criminosa, os Capoeiras faziam verdadeiras badernas, tornando-se uma valiosa arma entre partidos rivais para que um pudesse destruir o comício do outro. Para isso, um partido contratava sorrateiramente duas maltas rivais sem que uma soubesse do contrato da outra para que se encontrassem no comício e a partir daí, a confusão estava formada, cabendo à polícia, acabar com a festa. Duas das "gangues" mais violentas do Rio de Janeiro, naquela época, eram as dos Guaiamuns e dos Nagoas, verdadeiras fortalezas em matéria de briga de rua e de desordem pública. A gangue dos Nagoas servia ao Partido Conservador e a dos Guaiamuns, ao Partido Liberal, sendo estes dois os maiores e mais poderosos partidos políticos da época, imagina-se o resto.

25 – PUNIÇÃO

Até então, a lei punia com penas que variavam de 300 açoites com sal e cachaça mais a ida para o calabouço das prisões a quem fosse pego na capoeiragem. Porém, o auge da repressão se deu em
1893, quando foi instituída a deportar “os vadios da capoeira” do Rio de Janeiro para a Ilha de Fernando de Noronha onde havia um presídio de trabalhos forçados. Na Bahia, a capoeiragem foi desorganizada pela eminência da Guerra do Paraguai e, todos os que fossem pegos na vadiação da Capoeira eram mandados para a linha de frente da guerra de 1864. As gangues do Recife só foram extintas em 1912 por pura falta de graça para a violência pois, foi a partir desta data que a Capoeira passou a ser considerada como brincadeira e deu origem ao frevo, como tudo que deixa de ser proibido perde a graça.

26 – LIBERTAÇÃO DE UMA ARTE

Foi em nome da liberdade para a Capoeira como um todo que a luta continuou e continua até hoje.
Mesmo sob o ferro da repressão, grandes nomes de capoeiristas célebres passaram para a história.
Entre estes estão nomes que já se foram como Mestre Pastinha, Mestre Bimba, Mestre Gigante, Manduca da Praia, Mestre Leopoldina, Pedro Cobra, Nascimento Grande e Besouro Mangangá, que ganhou este apelido devido ao conteúdo de uma lenda que o cercava e que dizia que quando ele se via cercado por muitos homens armados, ele se transformava num inseto, um besouro gigante e saía voando, deixando todos apavorados com seu sumiço. Sem usar armas, a Capoeira bateu-se esse tempo todo contra a injustiça que perseguia seus praticantes. Hoje a Capoeira é arte, arte livre e pura que trás em seu íntimo a luta de um povo pela própria liberdade de viver.

27 – VITÓRIA DE UMA CULTURA

No Brasil a Capoeira cresce num contexto de conflito no Recôncavo Baiano, nas fazendas do Rio de Janeiro e nas serras de Pernambuco. Através da saga dos quilombos foram aprimoradas técnicas de combate, dissimuladas nas senzalas, onde, diante dos olhos do feitor, era praticada a luta em forma de dança. No dia 31 de outubro de 1821, o intendente geral da polícia da corte recebia do príncipe regente, instruções para por fim às desordens provocadas pelos Capoeiras. Com a guerra do Paraguai, estes capoeiristas faziam parte das maltas de Capoeira que promoviam a desordem pública e atemorizavam os transeuntes, intimidando pessoas pacíficas. Cabe destacar que, além de muitos elementos oriundos de classes mais pobres, muitos rapazes da alta roda da burguesia cultivavam com entusiasmo a prática da Capoeira que já estava criando raízes na sociedade carioca. Em 1890, com o advento da república, teve início uma ferrenha campanha contra a prática da Capoeira, levando muitos jovens da sociedade a se transformarem em marginais, já que a Capoeira era tida como crime. Devido a tanta proibição foram criados códigos e estratégias de comunicação através dos toques de Cavalaria (a polícia anda a cavalo), ou através do toque Amazonas ou de São Bento Grande que dava aviso de área livre. Toda esta perseguição era na verdade preconceito, racismo e luta de classes, misturados com medo e ignorância por parte daqueles que se sentiam ameaçados com o fortalecimento da cultura afro-brasileira. No entanto, em 1937, o então presidente Getúlio Vargas, revogou a Lei Sampaio Ferraz, liberando a capoeiragem. Isto depois de assistir a uma apresentação de Mestre Bimba e de seus alunos. Esta apresentação deixou Getúlio Vargas muito impressionado com a beleza da arte da Capoeira, e dando licença a Mestre Bimba para registrar sua "escola", tornando-se o primeiro a sistematizar o ensino da Capoeira no Brasil. Mestre Bimba introduz inovações no jogo, golpes e contragolpes de bateria, o atabaque, o berimbau, o agogô, o reco-reco, destituindo do jogo rituais como a ladainha, por exemplo. Era a Capoeira Regional. O estilo Angola resiste e permanece até hoje como a expressão primeira da Capoeira. Comparações à parte, o que importa mesmo é a vitória desta cultura tão rica e tão importante que é parte maior da atual cultura brasileira.

28 – VARIEDADE DE GOLPES

A parte física da Capoeira é a que faz o espetáculo da arte e a que exige mais do aluno capoeirista, afinal a Capoeira é feita de golpes e contra-golpes em sua totalidade. Didaticamente, podemos dividir os golpes da Capoeira em três estilos diferentes, ou seja, em três grupos:

GOLPES TRAUMATIZANTES

Armada, Bênção, Cabeçada, Chapa, Chapa de costas, Chapa giratória, Chapa rodada, Chapéu de couro, Cutilada, Eclipse, Esporão, Galopante, Gancho, Giro de Costas, Godeme, Joelhada, Martelo,
Martelo de chão, Martelo rodado, Meia-lua de frente, Meia-lua solta, Meia-lua de compasso, Parafuso, Ponteira, Queixada, Rabo de arraia e Vôo de morcego.

GOLPES DESEQUILIBRANTES

Apanhada, Arqueado, Arrastão, Baianada, Balão cinturado, Balão de lado, Banda, Banda de costas, Banda trançada, Boca de calça, Chibata, Crucifixo, Cruz, Cruzilha, Dentinho, Gira baiana, Giro de chão, Gravata alta, Gravata baixa, Rasteira, Rasteira de mão, Relógio, Tesoura de costas, Tesoura de Frente , Tesoura em uma perna, Tesoura em ambas as pernas e Vingativa.

GOLPES MORTAIS
São todos estes e mais alguns que por ventura apareçam, pois há uma infinidade de golpes na
Capoeira. Para que um golpe destes seja mortal, basta que ele seja aplicado com maldade em pontos vitais ou mais sensíveis do corpo, como as têmporas, a nuca, o mediano da coluna vertebral, o estômago, os pulmões, o fígado e outros pontos do abdômen ou da cabeça. Se mal aplicados, estes golpes ou qualquer outro golpe de Capoeira poderão ser mortais ou deixar inválido o capoeirista desatento. Exemplo de um golpe mortal é a PONTEIRA, que se for aplicada com maldade e força na altura do estômago, causa uma hemorragia imediata, sem muito que se fazer para socorrer a vítima.
Outro golpe que pode ser fatal e imediato é o MARTELO CINTURADO que acerta, na maioria das vezes, as costelas do adversário no rumo do baço. Quando acontece um ataque destes, pouco há de se fazer. Geralmente a vítima morre no meio da roda ou até mesmo pode ser atirada para fora da roda, tendo além do traumatismo fatal no baço, fraturas múltiplas devido à queda.

29 – IMPORTÂNCIA PEDAGÓGICA

Numa concepção didática, consideramos a Capoeira uma atividade física completa, pois ela atua de maneira direta e indireta sobre o aspecto cognitivo, afetivo e motor do ser humano. Sendo encarada como lúdica instrucional, articula atividades de desenvolvimento visomotor com desenvolvimento artístico e social, levando a criança a estabelecer relações a partir dela própria, fato que torna a
Capoeira multidirecional, uma vez que permitirá, desde que adequadamente conduzida, desenvolver na criança noções de equilíbrio físico juntamente com o equilíbrio mental e a disciplina. No que tange a sua articulação às atividades pré-escolares, podemos através dela trabalhar conteúdos que dizem respeito à localização espaço-temporal, lateralidade cruzada e domínio da linguagem oral, característica marcante desta arte. Nas séries subseqüentes, passará naturalmente a ocorrer a articulação com os conteúdos de Geografia e História, principalmente a História do Brasil, intimamente ligada à História da Capoeira, situando a criança no tempo e no espaço que ocupa, haja vista a necessidade de situar seus praticantes no contexto histórico desta arte que, de geração em geração, vem se desenvolvendo através dos anos.
Assim vemos na Capoeira uma fonte inesgotável de riquezas que, pelas várias formas de ser ministrada, oferece ao seu praticante através de sua prática bem orientada, aprender a escolher as várias linhas com as quais mais se identifica, deixar de lado nenhum dos aspectos que abrangem o universo de nossa arte.

ALGUNS ASPECTOS A SEREM DESTACADOS:

EDUCAÇÃO

Como instrumento educacional, a Capoeira contribui muito para o desenvolvimento físico, intelectual e moral da criança bem como do adolescente e do adulto, visando sempre sua integração na sociedade como um todo.

ARTE

O aluno será orientado para dar visão à sua criatividade através do ritmo, do canto, da música e da expressão corporal.

CULTURA

Reconhecida como uma das maiores expressões do folclore e das tradições brasileiras, a Capoeira é um ponto importante a ser preservado, orientando-se os alunos para apresentações públicas, reforçando sempre o mérito do título conquistado, ou seja, apresentado aos espectadores a graduação de cada um dos alunos.

ESPORTE

Pode ter uma atenção especial para competições, estabelecendo treinamentos físicos, técnicos e especiais. Foi institucionalizada em 1972 pelo Conselho Nacional de Desportos e reconhecida em
1984 pelo Comitê Olímpico Brasileiro.
A capoeira se constitui em uma política de saúde pública, pois somente por meio de uma prática cultural e física, é possível sanar vários problemas, podendo ser empregada para resgatar àqueles, que já estão doentes, evitando que jovens e crianças enveredem pelo caminho das drogas.

CIDADANIA

A prática da capoeira é difundida no mundo e encontramos, ainda, resistência em praticá-la, desconhecendo que a atividade pode ser uma alternativa eficaz na melhoria das condições gerais do indivíduo, pois contribui para a auto-estima e formação do caráter e da personalidade de quem a realiza.

FILOSOFIA DE VIDA

Tornar-se um mestre preocupado em passar seus conhecimentos com alma, mostrando ao aluno que SER é mais importante que TER, que DAR-SE é mais importante que DAR e que a maior recompensa pelo trabalho é a verdadeira consciência do dever cumprido.

LUTA

Esta é uma das características que possibilitou a sobrevivência da Capoeira no Brasil. Graças à sua eficiência como instrumento de ataque e defesa desde os primeiros momentos de sua criação.

30 – ESCOLA ESPECIAL

Já existem no Brasil vários mestres de Capoeira que trabalham com crianças especiais, ou seja, trabalham com crianças e adolescentes excepcionais. Jovens e crianças portadoras de deficiência mental e/ou pequenas deficiências físicas podem praticar a Capoeira, tendo para tanto um mestre especializado neste tipo de trabalho. Muitos portadores da Síndrome de Down, de Paralisia Cerebral de 1º e 2º graus e outros tipos de deficiência que não comprometam 100% do sistema motor da pessoa podem e devem praticar esportes e em especial a Capoeira e a natação que possibilitam uma reabilitação muito mais rápida e eficiente das deficiências, melhorando muito o desenvolvimento desta pessoa. É emocionante ver (pela televisão) algumas crianças portadoras da Síndrome de Down formando a roda, tocando pandeiro e jogando Capoeira como se não houvesse "barreiras" entre elas e a arte.

31 – EDUCAÇÃO FÍSICA

A Capoeira apresenta-se como por excelência desenvolvendo as atividades físicas de base ao mesmo tempo em que atua com eficácia na melhoria das condições gerais do indivíduo estimulando a autoconfiança e a formação do caráter e da personalidade do capoeirista. Hoje em dia o capoeirista está mais preocupado com suas condições físicas e, por isso, as qualidades físicas necessárias a um capoeirista, estas são qualidades desenvolvidas na prática da Capoeira, visando o condicionamento físico que o esporte exige:

a) Resistência Aeróbica: é a qualidade física que permite a um atleta, por um longo período de tempo, uma atividade física relativamente generalizada em condições aeróbicas, isto é, utilizando diretamente o oxigênio do ar.

b) Resistência Muscular: é a qualidade que permite a um atleta sustentar uma atividade física o maior tempo possível em condições anaeróbicas, ou seja, com débito de oxigênio no ar dos pulmões.

c) Flexibilidade: é uma qualidade física que pode ser evidenciada pela amplitude dos movimentos das diferentes partes do corpo. É dependente da mobilidade articular e da elasticidade muscular, no jogo da Capoeira seja em qual for o ritmo do toque de berimbau, a flexibilidade é necessária em todo o tempo do jogo.

d) Velocidade de Reação: é a velocidade com a qual o atleta é capaz de responder a um estímulo, ou seja, é a rapidez com que o atleta executa cada movimento a ele imposto.

e) Velocidade de Deslocamento: é a capacidade máxima que o atleta desenvolve de passar de um ponto ao outro.

f) Velocidade dos Membros: é a capacidade de movimentar os braços e pernas com a maior rapidez possível. Sendo a Capoeira uma dança-luta, a habilidade para os três tipos de velocidade é essencial a qualquer capoeirista.

g) Equilíbrio Dinâmico: é o equilíbrio conseguido em movimento e que está diretamente ligado com a ginga.

h) Equilíbrio Estático: é o equilíbrio conseguido numa determinada posição depois de um movimento e que o capoeirista executa em todas as paradas que faz, sejam elas de mão, de tronco, etc.

i) Equilíbrio Recuperado: é aquele que se consegue depois de um giro de meia-lua, de armada, de aú, etc. Isto quer dizer que o capoeirista tem de se firmar em pé, ou em posição de ginga equilibrada depois de executar qualquer movimento para não perder o "centro". É o ligamento entre o término de um movimento e o início de outro em um curto espaço de tempo.

j) Educação em Geral: Destaca-se ainda outras qualidades psicológicas da Capoeira que são:
Atenção, percepção, criatividade, persistência, capacidade de iniciativa, autocontrole, autoconfiança, astúcia, coragem, segurança, dentre outros.

k) Metodologia: Pré-aquecimento, Preparação física geral, Preparação física específica e Roda.
Todas as qualidades citadas anteriormente estão presentes a todo instante numa roda de Capoeira. É preciso muita formação, força de vontade, muita consciência e muito trabalho. Havendo um berimbau tocando e dois capoeiristas jogando, haverá um transbordo de potencial jorrando desta fonte insaturável que é a Capoeira.

32 – PRÉ-ESCOLA

Sendo considerada como atividade física completa e única, a Capoeira é ideal para o desenvolvimento físico, principalmente para quem está em fase de crescimento. Durante a fase em que a criança está na pré-escola ela se depara com um mundo completamente novo a cada dia, para sobreviver neste mundo de novidades, a criança tem de desenvolver e adquirir destreza para se defender e transpor os diversos obstáculos a ela impostos. A prática da Capoeira desenvolve na criança uma habilidade única, trabalhando o corpo e a mente, deixando a criança mais ativa e mais atenta. Trabalhar com crianças é uma atividade muito gratificante desde que o mestre seja uma pessoa preparada para tal. A idade ideal para a criança inicie na prática da Capoeira é a partir de 6 anos ou um pouco mais. Ás vezes, existe crianças que têm aptidão para iniciar aos 6 anos. Porém, há outras que não. Boa parte dos grupos de Capoeira no Brasil faz este tipo de trabalho com crianças em seus próprios locais de atividade, ou seja, dentro das escolas. Para que este tipo de trabalho tenha pleno sucesso, é preciso que as escolas também colaborem com os mestres dos grupos, facilitando o trabalho com a cessão de locais próprios e horários que não interfiram em outras fases de aprendizagem das crianças.

33 – FUNDAMENTOS

É durante o tempo que o aluno convive com o mestre que ele entra em contato com o infinito mundo da Capoeira. Por isso, não existe Capoeira sem mestre. Cada mestre tem seu jeito particular de ensinar, de passar para o seu aluno tudo o que ele achar que o aluno deve aprender para ser um bom capoeirista. Na maioria das vezes, fundamento quer dizer conselhos de mestre e estes conselhos ajudam aos "menos avisados" a evitarem os vacilo na roda ou durante o jogo. Alguns destes conselhos vêm em forma de dicas para o aluno e são fundamentais para o "bom comportamento" na roda, pois muitos mestres antigos exigem o respeito às tradições e, como não encontram, deixam de jogar e assim deixam de ensinar muita coisa boa para os mais novos. Na Capoeira Angola, por exemplo, vemos que para assumir como angoleiro não se pode jogar sem sapato nem sem camisa.
Na roda de Capoeira, se você quer ser bem recebido, você tem que em primeiro lugar se apresentar ao mestre dono da roda, depois observar o jogo, tocar um instrumento e só então pedir licença e sair para o jogo. A roda começa e termina ao pé do berimbau, não ficar disperso na roda é o motivo principal pelo qual ela é formada, a roda é o símbolo da concentração. Não "acumular" nem fazer confusão ao pé do berimbau, só abaixar para a saída pró jogo depois que os dois adversários saírem da roda. Não bater palmas e nem jogar durante a ladainha, pois ela pode ser um desafio e todos os jogadores têm de estar atentos. Um mestre diz que não se bate palmas no jogo de Angola. Outro diz que sim, que as palmas em duas batidas ritmadas e bem compassadas fazem parte do jogo de Angola. De qualquer forma, considere as duas hipóteses corretas. Não se deve tampar a frente dos tocadores de berimbau, pois é o berimbau que coordena o jogo, pede para parar ou começar ou ainda para mudar a cadência do jogo. Não pode haver troca de instrumento entre os jogadores e tocadores durante o jogo, para que o tocador também possa jogar, ele tem de esperar uma "folga" no jogo para poder passar o instrumento para outro tocador. É obrigatório a um bom capoeirista saber tocar todos os instrumentos e cantar pelo menos dez músicas diferentes. Quando dois mestres estão jogando não se compra o jogo deles. Eles decidem quando querem passar o jogo para outro mestre. Para a saída do jogo de Angola, é obrigatório fazer o Cumprimento do Mestre ou Queda de Rim. Cada um é cada um, ninguém luta com o jeito do outro, mas na luta de cada um há toda a sabedoria que aprendeu. No jogo da Capoeira, o principal movimento é a ginga, da qual partem todos os outros movimentos. Ainda existe uma infinidade de pontos fundamentais a ser dita, mas está em aberto, pois nunca chegaria a um final sendo que existem muitos, inúmeros mestres no Brasil inteiro e dizer os fundamentos que cada um deles segue, seria impossível.

34 – MANDINGA OU MALÍCIA

"Nêgo veio mandinguêro dá um risu a todumundu mais é brabo i veiaco cum mulequi i vagabundu".
Nesta parábola, vê-se muito bem onde se esconde a mandinga de um velho Capoeira. É de sorriso em sorriso que ele arma seu jogo e faz hora com o adversário dentro da roda. Não é só no jogo de
Angola que existe mandinga, na Regional também existe e muita. A mandinga ou malícia é o jeito que cada um cria de jogar a Capoeira e de lidar com seu adversário dentro da roda. Uma finta de movimento, um faz que vai e não vai, um floreio de mão, uma meia-queda para um lado ou para o outro, tanto faz o tipo de "segredo" que o jogador vai usar, são todos movimentos imprevisíveis, feito um gato andando em cima de telhas, nunca se sabe para onde ele vai pular.

35 – MACULELÊ

Existe em Santo Amaro da Purificação, Bahia, uma dança, um jogo de bastões remanescentes dos antigos índios cucumbis. É o Maculelê. Esta "dança de porrete" tem origem Afro-indígena, pois foi trazida pelos negros da África para cá e aqui foi mesclada com alguma coisa da cultura dos índios que aqui já viviam. A característica principal desta dança é a batida dos porretes uns contra os outros em determinados trechos da música que é cantada acompanhada pela forte batida do atabaque. Esta batida é feita quando, no final de cada frase da música os dois dançarinos cruzam os porretes batendo-os dois a dois. Os passos da dança se assemelham muito aos do frevo pernambucano, são saltos, agachamentos, cruzadas de pernas, etc. As batidas não cobrem apenas os intervalos do canto, elas dão ritmo fundamental para a execução de muitos trejeitos de corpo dos dançarinos. O Maculelê tem muitos traços marcados que se assemelham a outras danças tradicionais do Brasil como o Moçambique de São Paulo, a Cana-verde de Vassouras-RJ, o Bate-pau de Mato Grosso, o Tudundun do Pará, o Frevo de Pernambuco, etc. Se formos olhar pelo lado do conceito de que Maculelê é a dança do canavial, teremos um outro conceito que diria ser esta uma dança que os escravos praticavam no meio dos canaviais, com cepos de cana nas mãos para extravasar todo o ódio que sentiam pelas atrocidades dos feitores. Eles diziam que era dança, mas na verdade era mais uma forma de luta contra os horrores da escravidão e do cativeiro. Os cepos de cana substituíam as armas que eles não podiam ter e/ou pedaços de pau que por ventura não encontra sem na hora. Enquanto "brincavam" com os cepos de cana no meio do canavial, os negros cantavam músicas que evidenciavam o ódio. Porém, eles as cantavam nos dialetos que trouxeram da África para que os feitores não entendessem o sentido das palavras. Assim como a "brincadeira de Angola" camuflou a periculosidade dos movimentos da Capoeira, a dança do Maculelê também era uma maneira de esconder os perigos das porretadas desta dança. Uma outra versão diz que para se safarem das chibatadas dos feitores e capatazes dos engenhos, os negros dos canaviais se defendiam com pedaços de pau e facões. Aos golpes e investidas dos feitores contra os negros, estes se defendiam com largas cruzadas de pernas e fortes porretadas que atingiam principalmente a cabeça ou as pernas dos feitores de acordo com o abaixar e levantar do negro com os porretes em punho. Além desta defesa, os negros pulavam de um lado pró outro dificultando o assédio do feitor. Para as lutas travadas durante o dia, os negros treinavam durante a noite nos terreiros das senzalas com paus em chama que retiravam das fogueiras, trazendo ainda mais perigo para o agressor. Atualmente a dança do Maculelê é muito praticada para ser admirada.

36 – PUXADA DE REDE

O teatro folclórico que retrata a puxada de rede, conta a história de um pescador que ao sair para o mar em plena noite para fazer o sustento da família, despede-se de sua mulher que, em mau pressentimento, preocupa-se com a partida do marido e o assusta dizendo dos perigos de sair à noite, mas o pescador sai e deixa a choras e os filhos assustados. O pescador sai para o mar e leva consigo uma imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, seus companheiros de pesca e a bênção de Deus.
Muito antes do horário previsto para a volta dos pescadores, que seria às cinco horas da manhã, a mulher do pescador, que ficou na praia esperando a hora do arrasto, teve uma visão um tanto quanto estranha. Ela vê o barco voltando com todos à bordo muito tristes e alguns até chorando. Quando os pescadores desembarcam, ela dá pela falta do marido e os pescadores dizem a ela que ele caiu no mar por conta de um descuido e que devido à escuridão da noite, não foi possível encontrá-lo, ficando ele perdido na imensidão das águas. Ao amanhecer, quando foram fazer o arrasto da rede que ficara no mar, os pescadores notaram que por ter sido aquela uma noite de pouca pesca, a rede estava pesada demais. Ao chegar todo o arrasto à praia, já com dia claro, todos viram no meio dos poucos peixes que vieram o corpo do pescador desaparecido. A tristeza foi instantânea e o desespero tomou conta de todos ali presentes. Prossegue-se então os rituais fúnebres do pescador sendo levado à sua morada eterna pelos amigos que estavam com ele no mar, sendo seu corpo carregado nos ombros, pois a situação financeira não comportaria a compra de uma urna, o cortejo segue pela praia. Muitos grupos de Capoeira encenam a puxada de rede para fazer um treinamento teatral em seus alunos e também para abrilhantar seus eventos. Porém, poucos conhecem a fundo a verdadeira história da puxada de rede e conheço apenas esta versão. É uma peça folclórica e, portanto, as versões sobre a sua definição podem ser infinitas.

37 – INTEGRAÇÃO CULTURAL ATRAVÉS DA ARTE

O negro escravo trouxe a sua cultura para o Brasil e junto a ela veio a Capoeira. O brasileiro leva sua cultura para outros países e junto a ela vai a Capoeira. É a coisa mais certa que tem! A Capoeira não tem raça, nem cor, nem nacionalidade, nem religião, nem limites geográficos. A Capoeira é única, é uma só aqui ou qualquer outra parte da terra. Hoje se pratica a Capoeira nos Estados Unidos Inglaterra, Canadá, Suíça, Suécia, Itália, Portugal, Espanha, Alemanha, Israel, Japão, Holanda, Austrália, Cuba, Panamá e em muitos países pelo mundo afora. Cada mestre que sai do Brasil para trabalhar ensinando em outro lugar do mundo, trás de lá um pouco da cultura deste lugar que se misture à nossa cultura e vice-versa. E assim vai-se fazendo esta mesclagem cultural muito evidente aos nossos olhos e muito útil para uma maior absorção de conhecimentos novos. Este é um trabalho que deve ser continuado pois é a expansão da nossa cultura mais original para outros povos além de ser uma forma excelente de divulgação da nossa arte sem, é claro, perder a essência fundamental desta arte
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38 – ZUMBI DOS PALMARES

A partir das lutas com os holandeses, o destino do grande Quilombo de Palmares aparece ligado à família da princesa Aqualtune. Dois de seus filhos, Ganga Zumba e Gana Zona tornaram-se chefes dos mocambos mais importantes do Quilombo. O mais provável é que tenham recebido estas chefias de herança. Como em algumas tribos africanas a sucessão não se fazia de pai para filho e sim de tio para sobrinho, Ganga Zumba e Gana Zona devem ter substituído algum irmão de Aqualtune, do qual até hoje nenhum registro foi encontrado. Mas Aqualtune também tivera filhas e uma delas, a mais velha, que se chamava Sabina, deu-lhe um neto, nascido quando Palmares se preparava para mais um ataque holandês, previamente descoberto. Por isso, os negros cantaram e rezaram muito aos deuses, pedindo que o Sobrinho de Ganga Zumba, e, portanto, seu herdeiro, crescesse forte. E para sensibilizar o deus da guerra, deram-lhe o nome ZUMBI. A criança cresceu livre e passou sua infância ao lado de seu irmão mais novo chamado Andalaquituche, em pescarias, caçadas, brincadeiras, ao longo dos caminhos camuflados, que ligavam os mocambos entre si. Garoto ainda, Zumbi conhecia Palmares inteiro. Suas árvores, seus rios, suas plantações e aldeias. Os anos corriam tranqüilos para Zumbi, que da escravidão só conhecia as histórias terríveis, que os mais velhos estavam sempre a contar, lembrando da escuridão das senzalas, a umidade e a morte nos navios negreiros. Passam-se os anos e Palmares torna-se cada vez mais uma potência. Na década que se inicia em 1670, Palmares vive seu apogeu. Mais de 50.000 habitantes livres, distribuídos em vários mocambos. Zumbi e Andalaquituche, já homens feitos, chefiavam suas próprias aldeias. Nesse tempo, o crescimento do Quilombo e as novas necessidades de defesa haviam transformado Palmares numa federação. Ganga Zumba, que governava a maior das aldeias - Cerca dos Macacos - presidia o conselho de chefes dos mocambos e passou a ser considerado rei de Palmares. Sempre muito perseguidos, os negros que conseguiam chegar a Palmares e eram considerados livres, logo se transformavam em guerreiros, pois foram muitos anos de lutas sangrentas em defesa do quilombo. Tantas foram estas lutas, que doze anos mais tarde o velho Ganga Zumba via seu reinado ameaçado por uma espécie de força que Zumbi tinha e exercia sobre os guerreiros que seguiam muito mais as suas ordens do que as do rei Ganga Zumba. Numa noite de festa em comemoração à vitória de uma luta, Ganga Zumba reuniu todo o povo de Palmares para que testemunhassem a coroação de Zumbi como novo rei de Palmares.
Nesta mesma noite, Ganga Zamba traiu Zumbi, dividindo a opinião do povo e colocando a grande maioria contra Zumbi. Ganga Zumba foge de Palmares com um grupo muito grande de guerreiros, mulheres e crianças e se refugia no Vale do Cacuá, logo abaixo da Serra da Barriga, onde procura fundar um novo quilombo. Mas, os guerreiros que o acompanhavam começaram a se desentender com as ordens quase suicidas do vê ho Ganga Zumba e também o traíram. Deram-lhe vinho envenenado para beber, dizendo que aquele era um vinho especial, que haviam roubado na vila do
Porto Calvo, somente para agradar o rei. Com a morte de Ganga Zumba, os guerreiros voltaram para Palmares e se uniram a Zumbi. Foi quando se deu a batalha mais cruel de toda a existência do quilombo, fazendo com que fosse desfeita toda a soberania de Palmares. Zumbi foi morto em 20 de
novembro de 1695, vítima da traição de um de seus homens de confiança. Após a queda de Palmares e a morte de Dandara, a esposa de Zumbi, e de todos os seus três filhos, Zumbi se refugiou na mata, numa pequena caverna à beira de um riacho. Muito ferido da guerra e já sem muitas forças, tinha consigo apenas a ajuda de uma criança abençoada chamada Lualua, quando o seu traidor levou um dos homens do exército de Domingos Jorge Velho até o esconderijo de Zumbi. Este homem era André Furtado de Mendonça e levou Zumbi até Domingos Jorge Velho que o matou a sangue frio com dois tiros à queima roupa. Era o fim. A cabeça de Zumbi foi cortada e levada para a vila do Recife como prova do fim de Palmares e da rebeldia dos negros, que a todo o momento eram ameaçados por feitores que diziam fazer com eles o mesmo que foi feito com Zumbi.

39 – BESOURO MANGANGÁ

Foi um dos mais exímios capoeiristas que se tem notícia. Tinha fama de mau e seu nome é até hoje
uma lenda no mundo da Capoeira. Dizem os mais antigos que Manoel Henriques era o que se chamava de fantasma na roda de Capoeira, devido à sua grande esperteza e agilidade. Poucos sabem de sua origem, mas muitos conhecem sua valentia. Besouro Mangangá foi o apelido dado a ele por conta de que muitos diziam que quando o cerco se fechava numa roda de Capoeira ou numa briga de rua, e ele se via acuado ou ameaçado, se transformava num inseto enorme e preto, feito um besouro gigante, e saía voando por cima de todos e rogando praga a quem jurasse a morte. E assim, ele seguia seu caminho metendo medo e pavor a quem o encontrasse de frente. Até que um dia, numa emboscada muito bem armada, foi morto a golpes de "ticum", uma faca feita de osso de boi, a qual os negros diziam ter sido feita com o osso do diabo. Não se sabe quem o matou. Só é conhecido de todos os capoeiristas o seu nome e sua fama.

CAPOEIRA, UMA HISTÓRIA DE VIDA

40 – PRINCESA AQUALTUNE

Era uma princesa negra da tribo dos Zulus, que veio para o Brasil como escrava. Foi a matriarca fundadora do Quilombo dos Palmares, junto com seu marido, de nome desconhecido. Mãe de Ganga
Zumba, Gana Zona e Sabina, a mãe de Zumbi. Morreu entre os anos de 1626 e 1628, numa das muitas batalhas pela destituição de Palmares, já muito velha, quando incendiaram a choupana na qual ela estava abrigada.

41 – DANDARA

Primeira e única mulher de Zumbi, princesa de Palmares e mãe dos três filhos de Zumbi. Dandara era guerreira valente e auxiliou muito Zumbi quanto às estratégias e planos de ataque e defesa de Palmares. Morreu por acidente, durante uma caçada, quando cai da pedreira mais alta de Palmares, que ficava nos fundos do principal mocambo de Palmares - a Cerca dos Macacos.

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